Como ainda é raro ler um jornalista que escreva alguma coisa de jeito sobre Educação, considero da mais elementar justiça citar este excerto tirado daqui. As palavras são de Mário Ramires, subdirector do Sol.
"O ano lectivo começou esta semana, com os costumeiros problemas e mais um: esse, o da campanha contra a gripe A, eleito matéria extracurricular de frequência obrigatória e prioridade máxima. Ai do menino, mesmo do primeiro ano, que desde o primeiro dia de aulas não saiba o bê-á-bá da gripe. O resto tem tempo.
As escolas mobilizaram-se para distribuir panfletos aos estudantes e pais, trataram de arranjar salas de isolamento para os casos suspeitos mesmo quando nem para as aulas há instalações de jeito, esgotaram o stock de gel desinfectante, perderam horas de trabalho em reuniões de professores e funcionários para pôr em prática os planos de contingência.
E as normas procedimentais aí estão, feitas à medida das possibilidades e do zelo de cada um. E, por isso, variam de escola para escola.
Nalgumas, os pobres miúdos são obrigados a lavar as mãos a cada espirro ou tossidela. Noutras, os desgraçados professores são obrigados a manter em cima da sua secretária um boião de gel que cada aluno é obrigado a utilizar imediatamente a seguir à entrada na sala de aula e antes de sair para o recreio – em turmas de quase 30 alunos não é difícil de imaginar o cenário – e ainda sempre que alguém vai ao quadro e pega no apagador, no giz ou no apontador que outrem usará a seguir. E por aí fora.
Ainda está para se saber como será num jogo de voleibol, basquetebol ou andebol numa aula de educação física duma dessas escolas mais zelosas: cada jogador terá de lavar as mãos a correr depois de passar a bola?
Um absurdo é o que é. Perda de tempo e de dinheiro.
O respeito das regras básicas de higiene e alguns cuidados acrescidos são como os caldos de galinha: não fazem mal a ninguém.
Mas pensar em travar a propagação do vírus por usar e abusar de um gel desinfectante nas salas de aula é o mesmo que acreditar que o vírus também faz intervalo durante o recreio – ou os miúdos vão deixar de cumprimentar-se, beijar-se, empurrar-se, cuspir-se, embrulhar-se à bulha, de beber do mesmo copo ou da mesma garrafa por causa duma coisa chamada H1N1?
E bem podem dizer-lhes que as pessoas responsáveis guardam distância de pelo menos metro e meio em relação aos seus interlocutores – nas outras campanhas, não andam todos aos beijos e abraços nas feiras, nos mercados e nas ruas, indiferentes aos riscos pandémicos?
A prova de que tudo não passa de um excesso de zelo e descabido contra-senso é que, esgotado o milagroso gel e face à sua inexistência em algumas escolas que não deixaram de abrir, a própria ministra da Saúde veio descansar os professores, técnicos auxiliares, estudantes e pais com a garantia de que lavar as mãos com o tradicional sabão azul é, afinal, suficiente.
Tanta preocupação e tanto investimento com o raio do gel xpto e vai de lá bastavam umas barras de sabão macaco...
...E, já agora, umas garrafinhas de lixívia. É que as nódoas na Educação e nas escolas vão muito para além dos excessos com a gripe A.
E devia fazer parte das mais elementares regras de higiene mental acabar com elas.
Cabe lá na cabeça de alguém, por exemplo, que um professor tenha um conjunto de turmas de diferentes anos com um total de mais de duzentos alunos e, destes, quase uma vintena em regimes especiais – que implicam apoio pedagógico individualizado, adaptações curriculares ou avaliações diferenciadas – e que ainda tenha de dar aulas de substituição, receber pais, fazer relatórios individuais sobre os discentes e o mais a que está obrigado? Por junto, não dá para se dedicar a cada aluno nem um dia por ano.
Já para não falar das aulas em escolas em plenas obras e em tantas outras que delas tanto precisam e nunca mais as têm ou daquela em que o amianto foi retirado das paredes e deixado esquecido no pátio.
Em final de legislatura, é natural que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues já vá lavando daí as suas mãos.Mas as nódoas que deixa na Educação não saem com gel, nem com sabão macaco ou pedra-pomes... só com lixívia, que é receita antiga mas eficaz."
Este Jornalista certamente é Professor a tempo inteiro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Só pode!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Gostei de ler!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Ainda há ( sem ser Pressor)quem saiba o que é realmente uma Escola e conheça as realidades. Gostei.
ResponderEliminarÉ a mais pura verdade... nua e crua! :)
ResponderEliminarFantástico artigo. Sempre na "mouche". Este jornalista, Mário Ramires, de certeza que não está amordaçado pelo poder governativo e exprime a realidade das escolas com uma clareza que, de certeza, incomoda os defensores deste governo e deste ministério da "instrucção".
ResponderEliminarJ.Pereira
Muito bem dito.Só quem não quer é que não vê...Ou não tem competência...
ResponderEliminarI.Amaral
Aprovado!E mais não é preciso acrescentar
ResponderEliminarAgora esperemos que a ministra desinfecte...
Muito bem... É preciso começar a denunciar o que está mal em Portugal.... é URGENTE mudar o rumo deste país.
ResponderEliminarOs professores têm uma profissão muito nobre. São eles que preparam os homens de amanhã. Têm sido achincalhados pelo Governo. São os segundos pais dos nossoa filhos e por isso devem-nos merecer todo o respeito.
ResponderEliminarAmbrósio Lopes Vaz
SIM SENHOR!!
ResponderEliminarMAGISTER DIXIT!!!
com tanto desinfectante, o bom mesmo era a ministra desinfectar do ministério da educação!!
ResponderEliminarIsto está MAGISTRAL!!!!!!!!
ResponderEliminarAplaudo de pé!!!!!!!!!!!!!!
Completíssimamente de acordo! A partilha das nossas angústias alivia os nossos desalentos e sentimo-nos menos sós! Parabéns!
ResponderEliminarEste artigo diz tudo o que penso!
ResponderEliminarParabéns!
Não posso estar mais de acordo com o conteúdo. Deve estar a ser um grande negócio para quem trabalha com o bacteriano !
ResponderEliminarMuitos parabéns.
Nuno Rodrigues
olá prof´s alunos e todas as pessoas ligadas há do verbo "Educação".
ResponderEliminarO ano lectivo começou mas o mistério do "Ministério da Educação",esse ficou e continua sem "Mudar",...até na sua forma mais simples e real da "Palavra".
Aceito o preceito e o conceito do "Educar"mas este no principio e na regra do conceito "Familia"!!!"cidadania...até com Liberdade...na palavra e no respeito dos mais velhos aos jovens!!!.
Mas...a palavra certa... no contexto do nosso tempo, e no modos Vivendis...tem que ter o nome e o rigor do tempo... no espaço do "Mistério"e não no modus operandis de ministério da educação.
Sem duvida e palavra menor ...ante o grande "Mistério da Instrução"...e isto no porquê...do prof instruir!!!dar conhecimento!!!preparar o aluno no dar "Instrução"das máterias,que levam ao enrequecimento e cultura dos alunos.
Para quando, chamar e dar ao ministério a instrução....!!!,porque não muda o ministério
de nome para a interiorização da familia na responsabilidade do educar e não instruir.
Conforme o dito popular, cada macaco no seu galho.
Aos prof;s pede-se o dever de "Instruir"
Há familia pede-se o dever de "EDUCAR".
Aos politicos e politologos,que ponham as palavras certas no legislar a educar,que mudem o nome ao mistério que é confuso e abrupto na palavra!!!.
O MINISTÈRIO É DA INSTRUÇÃO:
Lisboa 13 Outubro de 2009
jose carlos garcez
Parabéns, a quem escreve assim. Este é o retrato pur de uma alegoria sobre a qual Gil Vicente produziria a maior, entre as melhores tragicomédias do século. Ridendo castigat mores... è assim, mesmo, meu caro Senhor, com maiúscula, pois bem a merece. Bem haja pelo que diz e como o diz.
ResponderEliminarParabéns Mário Ramires. As verdades são para serem ditas. É inadmissível que sejamos obrigados a ficar na componente não lectiva enfiados em salas onde não existem as mínimas condições de trabalho. Não há tempo para preparar aulas, materiais didácticos e pesquisar sobre os temas a leccionar, esse tempo está destinado a:
ResponderEliminar- ficarmos na conversa, enfiados em salas sem quaisquer condições,onde nem internet existe para podermos pesquisar sobre matérias de interesse para as nossas aulas;
-Preencher documentos pais os quais não vemos qualquer efeito positivo no processo de ensino aprendizagem;
Enfim...é este o estado na nossa educação no momento actual. Foi esta a reforma que ficou desta ministra e governo.
Incisivo.
ResponderEliminarVou linkar.
eu já li tanta coisa k francamente não sei o k pensar o k é certo a epedemia está aí e a matar mas tb não acredito n vacina!!!!!!!aliás já não acredito em nada neste país!!!!!!!!!!!!!!!!sei k á muita INCOPETÊNCIA..... IVONE CLEMENTE
ResponderEliminarBem haja quem ainda reconhece e enaltece o meritório trabalho dos professores. É pena que quem devia reconhecê-lo não o faça, seja por orgulho, medo ou ignorância.
ResponderEliminarParabéns Sr. Mário Ramires pelo excelente artigo.