segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Se a minha vagina falasse

          





  Do Jornal de Notícias de hoje: Mulher usava vagina para esconder tesouro









              Num país iletrado e iliterato, uma pessoa ciente da necessidade de cultivar as massas devia falar de livros e de filmes e de arte abstracta, mas como resistir ao apelo de uma vagina que absorve – é o termo! – desta maneira aquele que poderá ser considerado um dos títulos jornalísticos do ano? Resumindo: considero imperdoável que o pé me fuja tão rapidamente para uma pantufa vagamente lúbrica, mas não me perdoaria se não partilhasse convosco alguns pensamentos inocentes.

Em primeiro lugar, confirma-se a incompetência da justiça. Vejamos: a dada altura, ficamos a saber que o tribunal confessa que "não encontra os arguidos para os notificar.” Será necessário um raciocínio assim tão elaborado para concluir em que local estarão escondidos os meliantes? Basta usar como guia um ginecologista com experiência em espeleologia, senhores! Convém, igualmente, que a polícia se faça acompanhar por um negociador, não vá dar-se o caso de os criminosos quererem usar algum óvulo como refém.

Entretanto, tivemos acesso à gravação áudio da preparação para um assalto. Aqui fica a transcrição.

                Voz masculina 1: Vamos lá ver se está o material todo. Armas?

                Voz masculina 2: Confere.

                Voz masculina 1: Cordas?

                Voz masculina 3: Confere.

                Voz masculina 1: Pés-de-cabra?

                Voz masculina 4: Confere.

                Voz masculina 1: Vagina?

                Voz feminina (sensual): Queres conferir?

                Voz masculina 1 (pigarreando): Mau, mau, vamos lá continuar…





                Enfim, após tanta importância dada à face – mesmo que oculta – parece-me um sinal de pluralismo que a justiça dê agora importância a outras partes do corpo.

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