No Sol, surge este magnífico título: Acordo com professores trama enfermeiros.
Este título é da responsabilidade do jornal, claro. O título não nos permite saber se corresponde a uma conclusão da jornalista ou a uma síntese em tom pedestre (a deselegância do verbo "tramar") de afirmações dos responsáveis políticos. Lê-se e percebe-se que o magnífico título é um dois-em-um: conclusão da jornalista e afirmação de responsáveis políticos.
O Ministro das Finanças afirma que "o acordo na Educação «foi uma decisão política»". Pergunto-me o que quererá isto dizer. Quer dizer que foi uma decisão tomada contra as finanças públicas? Se sim, será que política e finanças vivem em oposição, sendo a política o reino dos jogos sujos? O Ministro das Finanças confessa, então, que o país não tem condições para oferecer aos professores o que ofereceu? O Governo anda, então, a comprar a paz com os professores, pondo em perigo as "contas públicas"? Pergunto-me, ainda: não será da responsabilidade de um jornalista fazer estas mesmas perguntas?
No final do texto, sabemos, ainda, que a proposta feita aos enfermeiros "é pior do que aquela com que a própria ministra iniciara as negociações em Setembro, nas vésperas de eleições legislativas e autárquicas." Não haverá aqui uma manifestação de eleitoralismo?
Relativamente às afirmações do Governo, só há duas hipóteses: ou é irresponsável ou é mentiroso. Um Governo que confessa ter dado aos professores dinheiro que o país não tem não merece governar. Se , afinal, isso não for verdade, estamos perante um embuste, sendo o objectivo do governo, naturalmente, dividir para reinar, com o simples objectivo de lançar a opinião pública contra os professores. Qualquer uma das duas situações é gravíssima.
Diante disto, que jornalismo temos, então? Não temos. O que existe é uma caixa de ressonância, a começar e a acabar no título escolhido. Já agora, não quererá o Sol pensar em aprofundar a exploração do vernáculo? É que há palavras muito mais marcantes do que "tramar".
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