terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Não podem ser todos bons

  Expresso, 30-01-2010  




     Imaginem que vão na rua com o vosso filho e ele aponta para um transeunte, afirmando: “Olha, ó pai, aquele é o meu professor de Português.” Um tipo começa logo por se perguntar: “Este professor será excelente, muito bom, bom, satisfatório ou medíocre? Se tiver havido uma avaliação séria, há fortes probabilidades de não ser sequer bom.” É então que arriscamos um cumprimento e perguntamos: “Ó sôtor, diga-me uma coisa: na avaliação, qual foi a nota que o senhor teve?” O professor, simpaticamente, responde: “Tive satisfatório, meu amigo!” Um tipo começa por se congratular por não ter calhado num medíocre. No entanto, a corrente de pensamento não pára e cogitamos: “Mas o homem não teve bom porquê? Tirou um curso superior, mais o estágio, mais a formação, mais a experiência. Como é que este gajo não é, pelo menos, bom? Ainda por cima, o puto queixa-se de que não aprende nada!” Ficamos apreensivos e deixamos sair a única pergunta possível: “Mas, então, o doutor não progrediu na carreira, certo?” O afável docente responde: “É claro que não, amigo, fique descansado, que aqui levamos a avaliação muito a sério.” É nesse momento que uma pessoa sente que ainda há justiça no mundo: que o rapaz continue a escrever “derrepente” é o menos, mas o que interessa é que o professor não vai progredir na carreira.
     É bom que isto chegue às outras classes profissionais e lá virá o tempo em que os médicos virão a usar um cartão em que, para além do nome, seja indicada a nota obtida, de modo a permitir aos doentes escolher. Será, então, possível ouvir nos hospitais frases como: “Sim, tenho uma fractura exposta, mas quero ser operado por aquele doutor careca que teve excelente!”










     Tal como este leitor do Expresso, há muita gente a dizer que os professores não podem ser quase todos bons. A minha pergunta é esta: será aceitável que alguém que desempenhe funções tão especializadas não seja, pelo menos, bom? Em verdade vos digo: no dia em que se conclua que a maioria dos elementos de uma classe profissional diferenciada é mediana, o problema é sério. Fica, no entanto, pelo menos, uma boa questão: com tantos professores bons, como podem os resultados ser maus? Tenho algumas repostas possíveis e nunca suficientes, mas terão de ficar para um dia destes.

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