Está instituído o mito de que os professores trabalham pouco (em muitos círculos, a hipérbole à portuguesa chega à afirmação de não trabalham nada). O governo ainda em funções procurou contribuir para a consolidação desse mito, sublinhando que a lei geral do trabalho prescreve um horário semanal de 35 horas. Explorou-se, então, a ideia de que os professores deveriam passar mais horas nas escolas, deixando no ar a insinuação de que, no fundo, o horário de trabalho dos professores coincidia com o horário lectivo, ou seja, que um professor trabalhava, por semana, cerca de 22 horas (25, no caso do primeiro ciclo), integrando, portanto, uma classe escandalosamente privilegiada.
Ora, a verdade é bastante simples: um professor precisa de muitas horas para além daquelas que passa dentro das salas de aula. Qualquer aleração feita neste campo teria efeitos sobre a qualidade do trabalho docente. Bastaria, aliás, tentar responder à seguinte pergunta: de quanto tempo precisa, semanalmente, um professor para preparar uma aula? Vamos imaginar que 15 minutos seriam suficientes. Partindo do princípio de que um professor tem 22 tempos lectivos por semana, seriam necessárias cerca de 5 horas e meia por semana para além do horário lectivo. Se se imaginar que seriam necessários 30 minutos por aulas, já passaríamos a 11 horas semanais, o que somado às 22 lectivas, chegaria às 33 horas de trabalho semanal, aproximando-se perigosamente do máximo de 35.
Qualquer pessoa que conheça a actividade quotidiana de um professor sabe que esta argumentação é tão insuficiente como ingénua, porque a vida de um professor não se fica por aqui. Como integrar, por exemplo, nesta obsessão contabilística, o tempo que um professor gasta a ler um livro que considere importante para a sua formação ou a criar fichas de trabalho ou a corrigir testes ou a organizar actividades extracurriculares ou a coordenar um departamento? Qualquer pessoa que conheça a actividade quotidiana de um professor deverá saber que este é, basicamente, um intelectual e um pedagogo e que desempenhar essas duas actividades com qualidade dá trabalho mais que suficiente. Qualquer pessoa que conheça a actividade quotidiana de um professor sabe que nenhum professor digno desse nome se preocupa(va) com o número de horas que trabalhava numa semana. Também se sabe que são sobretudo os professores que conhecem a actividade quotidiana de um professor.
Conclusão: com as medidas tomadas na presente legislatura, os professores passaram a dispor de tempo insuficiente para o trabalho individual. O prejuízo será sempre dos alunos.
TRISTE E AMARGA CONCLUSÃO, MAS INFELIZMENTE VERDADEIRA:" ...são os professores que conhecem a actividade quotidiana de um professor",PORQUE PARA MUITOS E MUITOS... SOMOS "uns pofessorzecos" QUE CUIDAM DAS SUAS CRIANÇAS ENQUANTO ALGUNS VÃO ÀS COMPRAS, AO GINÁSIO, AO CINEMA, ESTÃO NO BLÁ-BLÁ COM OS AMIGOS/AS, OURTROS ESTÃO EXERCENDO CARGOS DE ALTÍSSIMA RESPONSABILIDADE... DIZENDO BACORÁDAS, UMAS ATRÁS DAS OUTRAS.
ResponderEliminarTENHO PENA DE NÃO CONSEGUIR FAZER PAGAR, DELIBERADAMENTE, OS ALUNOS, MAS DESDOBRAR~ME , COMO MUITOS DE NÓS, EM PROFISSIONAL DE VÁRIAS PROFISSÕES: mãe, professora, esposa, filha,amiga, formanda....