Este é um dos mitos mais cultivados. Numa reportagem de 6 de Setembro último da “Notícias Magazine”, a propósito das aulas de substituição, a jornalista afirma que a decisão que presidiu à sua criação se relacionou com “um cenário de absentismo elevado dos docentes”. O Ministério da Educação, aliás, chegou a aproveitar, inocentemente, um dia de greve dos professores, em Novembro de 2005, para apregoar que, no ano lectivo anterior (2004-2005), tinham ficado por dar 7,5 a 9 milhões de aulas. Como é evidente, diante de uma opinião pública mal informada e com pouca vontade de se informar, a referência a milhões não pode deixar de impressionar. É claro que o mesmo Ministério que tão pressurosamente tornou públicos esses números não se deu ao trabalho de divulgar quantas aulas estavam previstas na totalidade para esse ano ou quantas dessas aulas ficaram por dar por falta de colocação de professores.
O Sindicato dos Professores do Norte respondeu, então, que “apesar das más condições em que trabalham nas escolas e de estarem colocados em localidades muito distantes da sua residência familiar, a taxa de absentismo docente se situa entre os 4 e os 5%. Ou seja, mais de 95% do trabalho que é atribuído aos professores e educadores portugueses é cumprido por estes colocando-os num dos lugares de topo dos grupos profissionais mais cumpridores.” (podem ler o texto completo aqui). Que se saiba, estes dados não foram, posteriormente, desmentidos pelo Ministério, usando da habitual atitude de atirar as pedras e esconder a mão. Faz lembrar aquelas pessoas que murmuram palavras aparentemente insultuosas e que se afastam antes que tenham de explicar o que disseram.
Note-se, aliás, que este Ministério, tão amigo de divulgar estatísticas, nunca se deu ao trabalho de fazer o mesmo nos anos seguintes, independentemente de haver greves ou não. Confesso que não sei se os professores faltam muito ou pouco e julgo que esses dados deveriam ser amplamente divulgados. Até lá, estamos no campo da “crença” e não do “conhecimento”. Se ficar esclarecido que os professores faltam muito, talvez fosse importante criar aulas de substituição, por exemplo. Se se confirmar que, afinal, o “absentismo elevado dos docentes” é outra falácia, ficaria mal a qualquer governante usar esse argumento para tomar qualquer decisão e até lhe ficaria bem esclarecer a opinião pública, defendendo a imagem dos profissionais que tutela.
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