Creio que o verbo ‘desenrascar’ já não é tão utilizado como dantes, mas o conceito continua a ser estruturante da mentalidade portuguesa. Pelo lado positivo, desenrascar pode ser uma manifestação de generosidade ou um gesto de amizade, quando é um acto livre. Por outro lado, desenrascar pode ser perigoso, quando se tenta resolver problemas para os quais não se está capacitado.
O discurso oficial sobre os professores está recoberto de expressões como “rigor”, “profissionalismo”, “exigência” ou “cultura de avaliação”. No entanto, por baixo da retórica e na prática, a verdade é que os professores são obrigados a desenrascar, uma vez que são, cada vez mais, chamados a resolver questões para as quais não foram preparados. Para os responsáveis ministeriais e seus apaniguados, os docentes são pedaços de plasticina de uma elasticidade infinita, como se pode confirmar, por exemplo, nesta história.
Na verdade, esta filosofia, defendida implicamente há vários anos, é um convite ao amadorismo, porque os professores são obrigados a tratar de problemas para cuja resolução não estão profissionalmente capacitados, se tivermos em conta que esses problemas pertencem a campos tão diversos como a assistência social ou a psicologia.
O próprio modelo de avaliação docente foi construído com base neste conceito. Efectivamente, a maioria dos professores não está capacitada para avaliar professores. O Ministério inventou (que é outra maneira de desenrascar) uma divisão artificial e burocrática da carreira e criou um corpo a que chamou professores titulares, cuja função é a de se desenrascarem a avaliar outros professores, independentemente de estarem preparados para isso.
Resultado? Outra vez menos tempo individual de trabalho e consequente desvalorização da profissão nas suas vertentes pedagógica e científica. Ao mesmo tempo, os vários problemas sociais e individuais que se passeiam pela Escola continuarão por resolver, com reflexos inevitáveis na aprendizagem.
Nada disto é surpreendente, quando se percebe que tivemos uma equipa ministerial que se limitou a desenrascar.
Viva Fernando.
ResponderEliminarLinkei o teu blogue.
Abraço.
Paulo Prudêncio.
Olá, Paulo
ResponderEliminarÉ uma honra.
Abraço.