domingo, 25 de outubro de 2009

Quem se cala é mexilhão


    






     Andamos todos muito entretidos com a avaliação e com a divisão da carreira e arriscamo-nos a que isso se transforme numa cortina de fumo que impede uma visão sobre muitos outros problemas da Educação em Portugal. Uma vez alcançadas as mudanças necessárias nesses campos, é fundamental voltar a olhar para outros problemas:


1. O Estatuto do Aluno, a organização de cursos profissionalizantes e os currículos promovem o facilitismo, contribuindo para a crescente iliteracia e incultura das gerações mais jovens, para além de muitos outros factores exteriores à escola. A luta que os professores travam acaba por ser inglória e quase clandestina.

2. O modelo de gestão coloca os directores completamente nas mãos dos directores regionais. Ora, uma vez que estes são comissários políticos, a autonomia das escolas desaparece, ficando, por exemplo, à mercê das pressões para obtenção de resultados positivos que possam enfeitar as estatísticas e tornando mais fácil a proletarização dos professores.

3. Face ao exposto, a qualidade do trabalho dos professores já está brutalmente afectada. Como se isso não bastasse, mantém-se a sonegação do tempo individual de trabalho, continua a fraude das aulas de substituição, insiste-se no empobrecimento da formação contínua e transforma-se os professores em funcionários administrativos.

     Finalmente, o verdadeiro problema é o conformismo de uma classe que acaba por aceitar tudo, sem tomar posições, por comodismo ou receio de parecer corporativista, sendo de realçar que, em todo o país, é diminuto o número de escolas (duas, salvo erro) que reiterou, na actual legislatura, uma posição colectiva, exigindo a revogação do modelo de avaliação. Os professores continuam, portanto, a reagir e tarde, em vez de agir, sendo que agir não significa aqui contribuir para a criação de um clima artificial de guerra. Agir será, no mínimo, tomar posições públicas. Dizer mal dos governantes alivia, é certo, e é até recomendado pelos médicos de família, mas, em termos de opinião pública, é o mesmo que estar calado. E quem cala consente.

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