terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ouvir os professores – com o patrocínio de La Palisse

Educação - um pouco do muito que falta fazer



     Do ponto de vista dos sucessivos governos, em especial do penúltimo, os professores são meros executores. Isto tem-se aplicado, por exemplo, a questões curriculares ou, mais recentemente, a propósito da questão de avaliação dos professores. Os recursos de formação contínua mobilizados para essas questões constituíram, na realidade, momentos de divulgação/doutrinação e não de efectiva discussão aberta. Os professores são encarados como receptáculos e nunca como parceiros. Ora, os professores devem ser parceiros porque juntam à especialização científica e pedagógica a experiência do terreno.
     Ao longo dos anos, vários são os exemplos que podemos dar de medidas que os professores têm contestado. Um texto recente do Paulo Guinote faz referência a uma medida amplamente contestada pelos professores na altura em que foi imposta: as aulas de 90 minutos. Curiosamente, o Ministério está a começar a pôr a hipótese de regressar às aulas de 50 minutos.
     A atitude de políticos e/ou investigadores universitários muito raramente assenta em humildade, recorrendo, frequentemente, ao paupérrimo argumento de que “as pessoas tendem a resistir à novidade.” O processo de imposição da TLEBS serve de exemplo para o modo como questões estruturantes são tratadas. É verdade que, há anos, as questões gramaticais pediam uma revisão profunda. Sem transformar tal tarefa num eterno plebiscito com questões completamente abertas, a verdade é que esse processo deveria ter começado pela mobilização de todos os professores da área, criando condições para que houvesse uma discussão em que aspectos científicos e pedagógicos fossem devidamente equacionados. Em vez de debate, dá-se a imposição e, mais uma vez, as acções de formação constituem apenas momentos de doutrinação, passando por cima de vários argumentos que apontam insuficiências ou mesmo erros na nova terminologia. Aposto que, daqui a uns anos, estaremos também a desmantelar este monstro, tendo, entretanto, andado a perder tempo, tal como já aconteceu com as gerações inundadas pelas árvores generativas.
     A sobranceria daqueles que querem impor medidas é habitual. É necessário, então, criar condições para que os professores se façam ouvir, não por corporativismo, mas em benefício do sistema educativo. Essa não tem sido uma vocação dos sindicatos e, na verdade, não tem sido uma preocupação dos professores enquanto classe. Isso poderá implicar a criação de uma Ordem com Colégios de cada área ou disciplina ou poderá levar a que se reforcem as Associações de Professores? Seja como for, é fundamental que os professores sejam ouvidos, não porque sejam mais importantes, apenas porque são importantes.
     Como nota final e acessória, seria interessante fazer a história das medidas impostas pelo Ministério, nos últimos vinte/trinta anos, contra a opinião dos professores e os respectivos resultados. Talvez se pudesse aprender alguma coisa, porque “historia magistra vitae est”, já dizia Cícero.

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