Há uns anos, houve uma referência aos bons resultados obtidos pelos alunos de uma escola de Mértola, não me lembro se em exames nacionais. O facto de isso se ter tornado em notícia assentava na estranha circunstância de esses alunos serem filhos de pais com poucas habilitações literárias. Tal circunstância deveria conduzir, de acordo com as probabilidades autorizadas pelas estatísticas, a que os resultados dos alunos fossem maus. Qual era, então, o factor que contrariou o aparentemente inevitável? Segundo o que me lembro de ter lido, a razão apontada para o sucesso residia no facto de que a maioria dos pais acompanhava com frequência e atenção a vida escolar dos filhos. A propósito, se algum dos que por aqui passarem, tiverem mais alguma informação sobre essa notícia, agradecia que a compartilhassem, uma vez que isso poderia ser uma referência importante.
Não quero com isto contrariar aquilo que é óbvio na matéria do i de hoje, mas as estatísticas não são suficientes. Chegados a este ponto, tornar-se-ia interessante estudar as excepções, isto é, aqueles alunos que alcançaram a referida ascensão social, contra a corrente da estatística. A intuição (de alguma experiência feita) leva-me a acreditar que a base desse sucesso estará, na maior parte dos casos, num acompanhamento familiar equilibrado que não passa necessariamente por um auxílio nas questões curriculares, até porque muitos encarregados de educação não terão, como se sabe, conhecimentos suficientes para tal; esse acompanhamento deve fazer-se, antes de mais, através de uma atenção constante à vida escolar dos educandos.
O caso dos alunos de Mértola pode levar-nos a pensar num tempo em que a mobilidade social era uma miragem ainda mais distante. Mais uma vez, penso que seria curioso entrevistar várias pessoas que tiraram cursos superiores contra as expectativas sociais. Em que pensariam os pais que se sacrificaram para que essas excepções fossem realidades? As motivações seriam variadas, incluindo, com certeza, algum exibicionismo por “ter um filho doutor”. Que força foi essa que levou esses filhos de excluídos a conseguir fugir a um destino que parecia fatal? Trata-se de outros tempos a que não se deseja, evidentemente, voltar, mas cujo conhecimento pode ser importante.
Paula Teixeira da Cruz, entrevistada pelo i, desvaloriza esta evidência, afirmando: “Há muitas pessoas que não têm apoio e singram, lutam e têm uma vida profisssional.” Sendo esta outra evidência, fico com a impressão de que a ilustre advogada defende que a sociedade se deva demitir das suas funções, não tentando atenuar as injustiças sociais que colocam crianças em pontos de partida tão distantes. Pelo contrário, acredito que ainda há muito por fazer no âmbito da política social, com destaque para a família.
A solução para os problemas educativos não passa apenas pelos pais, mas creio que não é possível continuar a ignorar que existe uma iliteracia geral no que respeita ao exercício das funções de encarregado de educação. Um governo que sabe gastar tanto dinheiro em publicidade auto-elogiosa, deveria, antes, criar uma campanha que elucidasse os pais acerca dos direitos e deveres como encarregado de educação e de pequenos gestos necessários como obrigar o filho a falar do dia na escola ou a consulta frequente da caderneta escolar ou o contacto habitual mesmo que telefónico com o director de turma. Uma campanha destas impõe-se a cada ano que passa e poderia fazer uma grande diferença na vida dos alunos.
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