Justa ou injustamente, o árbitro assinala um livre directo perto da meia-lua, a dois metros da linha da grande-área. A equipa punida terá de se colocar a quase dez metros da bola e só se pode aproximar desta depois de ser tocada. O guarda-redes será obrigado a aproximar-se de um dos postes, deixando o resto da baliza sob a protecção da barreira, sabendo que dificilmente terá tempo de reacção se a bola passar por cima dos colegas e for em direcção ao poste de que ficou mais distante. Como se não bastassem todas estas facilidades, a tarefa de marcar estes livres é sempre entregue a jogadores que têm a enervante mania de colocar a bola onde querem. Neste momento, quase invariavelmente, os comentadores gritam: “Pode ser perigoso!”
Era neste momento que o Manuel Dias, meu companheiro revoltado de tantas horas televisivas, deixava escapar três palavrões e chamava “analfabeto” ao autor do comentário. Tentarei reproduzir a explicação que ele deu uma vez, a propósito desta manifestação de iliteracia futebolística: “Imagina que vou a passar na ponte da Arrábida e há um gajo que sobe para o muro de protecção. Faz algum sentido eu dizer-lhe ‘Ó amigo, veja lá que isso pode ser perigoso!’? Não, c*****, se o gajo está lá em cima, não pode ser perigoso, é perigoso!”
Já se sabe que há muitos livres directos falhados (falhar golos é, no fundo, uma das actividades fundamentais do futebol), mas dar a um jogador todas as condições acima descritas para ganhar balanço e rematar não pode ser perigoso.
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