Sou um ignorante, sei que sei pouco ou nada acerca de muito. Como acumulo com tanta ignorância o pecado da inveja, fico destroçado sempre que descubro que há pessoas mais sapientes do que eu. E fico destroçado muitas vezes.
Economia é um dos assuntos que também não domino. Por isso mesmo, ao longo dos anos, tenho-me dedicado a invejar quem tem perorado sobre o tema e cheguei a criar a ilusão de que se tratava de uma ciência exacta. Cavaco Silva é, exactamente, o paradigma do economista que nunca tem dúvidas e raramente se engana (a não ser no número de cantos d’ Os Lusíadas ou no nome do autor de Utopia).
Uma pessoa ouve um economista e, hipnotizada, fica com a impressão de que a solução dos problemas é sempre evidente, inevitável, clara e previsível. Depois de tantos anos a ouvir alvar tanta mente brilhante, resolvi limpar a baba do pasmo e decidi perguntar-me: se este pessoal sabe tanto, se as contas dos discursos batem sempre certo, porque é que nunca mais saímos da crise? Mais: por que razão é que chegámos sequer a entrar em crise?
Depois de conseguir fazer esta pergunta, fico, ainda, a saber que dez ex-ministros das finanças foram conversar com o Presidente da República sobre a situação económica do país, o que dá onze ex-ministros das finanças e um antigo Primeiro-Ministro, se contarmos com o próprio Cavaco.
Na declaração final defenderam medidas «adequadas e urgentes» para resolver «os problemas actuais», o que, assim de repente, não me parece grande originalidade. Para além disso, pergunto-me por que razão passaram todas estas mentes brilhantes por vários governos e o País, afinal, caiu nesta crise.
É por muitas destas e bastantes das outras que anda cá a parecer-me que os economistas percebem tanto de Economia como eu.
E é por tudo isto que penso que chegou novamente a hora de dizer "Sejamos realistas e exijamos o impossível."
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