domingo, 13 de setembro de 2009

Educação e suas falácias amestradas. Toda a gente percebe de Educação.


     Há alguns anos, estávamos vários professores sentados num restaurante junto da escola. Um segundo grupo de docentes chegou e uma colega, professora de Educação Visual, disse: “Ai, estou tão cansada!” Um dos comensais já sentado repontou: “Olha, agora fazer riscos também é trabalhar!” O comentário provocou uma gargalhada geral.
     O objectivo do chalaceiro não era, evidentemente, desprezar o trabalho da colega, mas apenas dispor bem os circunstantes. No entanto, o país está cheio de gente que é capaz de proferir frases semelhantes, mas carregadas de sinceridade enraivecida. O reclame em que três rapazes num bar garantem que marcavam o golo falhado na televisão é a melhor análise de psicologia social feita nos últimos anos. Não sei se é uma característica especificamente portuguesa, mas há uma certa tendência para se considerar que se é capaz de desempenhar qualquer tarefa de modo igual ou superior ao de qualquer profissional. É por isso que o portuguesinho acredita que não falharia o golo que o Ronaldo não conseguiu meter. O mesmo portuguesinho julga-se capaz de desempenhar qualquer tarefa que lhe pareça pouco técnica. Daí ser possível ouvir o portuguesinho criticar o funcionário das Finanças, dizendo qualquer coisa como “Eu também era capaz de estar aí sentado a fazer de conta que faço.”
     Ora, aparentemente, ser professor não é uma tarefa que envolva aspectos técnicos inacessíveis ao comum dos mortais. Na verdade, um professor entra numa sala de aula, diz umas coisas e segue para intervalo. No caso de um médico, o comum dos mortais já se sente mais intimidado, porque não será qualquer pessoa que pode pegar num bisturi e abrir buracos no corpo alheio, a não ser os maus carteiristas.
     O problema é que isto de ser professor é um bocado mais trabalhoso do que fazer uns riscos e, por muitas críticas que mereçamos, ser professor é ser um técnico altamente especializado. Até se pode dar o caso de que uma avaliação a sério venha a demonstrar que a maioria da classe é incompetente, mas numa sociedade de direito é-se inocente até prova em contrário e numa sociedade saudável um técnico é competente até prova em contrário. Nessa mesma sociedade, quem não for técnico especializado, deve informar-se junto destes.

3 comentários:

  1. Diz a minha mulher assim desta forma "Esse gajo devia escrever um texto todos os dias". E agora acrescento eu: "Não escreve e sabes por quê? Porque é um pisco."

    ResponderEliminar
  2. Uma análise fina, como tantas outras. Gostei. Ficarei atento ao bisturi do professor... Abraço amigo.
    Manuel

    ResponderEliminar
  3. Completamente de acordo. Toca no "ponto". Parabéns,
    Paula Vaz

    ResponderEliminar